Mundo – A posse de uma Bíblia é considerada crime grave na Coreia do Norte, um dos países mais fechados e repressivos do mundo. Segundo diversas organizações internacionais de direitos humanos, cidadãos flagrados com exemplares do livro sagrado podem ser presos, condenados a trabalhos forçados ou até mesmo executados.
De acordo com relatório publicado recentemente pela ONG Portas Abertas, especializada no monitoramento da perseguição religiosa, a Coreia do Norte lidera há anos o ranking dos países onde há maior repressão à liberdade de crença. “Possuir uma Bíblia, distribuir folhetos religiosos ou participar de reuniões cristãs secretas são atos considerados traição ao Estado e severamente punidos”, alerta o documento.
O regime de Kim Jong-un considera a propagação do cristianismo uma ameaça direta à estabilidade do governo e à ideologia oficial do país, baseada no culto à personalidade da dinastia Kim e na doutrina Juche, que prega a autossuficiência nacional. Por isso, qualquer expressão religiosa independente é tratada como subversiva.
Prisões e campos de trabalhos forçados
Fontes independentes e relatos de desertores norte-coreanos indicam que pessoas presas por possuírem Bíblias ou outro material cristão são frequentemente enviadas a campos de prisioneiros políticos, conhecidos como kwan-li-so. Nesses locais, as condições são descritas como desumanas, com relatos de fome, tortura e trabalho forçado.
“É difícil dimensionar a quantidade de cristãos presos atualmente, mas estima-se que dezenas de milhares estejam detidos apenas por praticar sua fé ou possuir uma Bíblia”, afirmou à imprensa Yoon Hyun-woo, pesquisador da ONG Human Rights Watch na Ásia.
Em um dos casos mais recentes e documentados, uma mulher de 30 anos foi detida na fronteira com a China ao tentar contrabandear Bíblias para dentro da Coreia do Norte. Ela teria sido submetida a interrogatórios violentos antes de ser condenada a 15 anos de prisão em regime fechado. Um “crime contra o Estado”
Perseguição silenciosa
Apesar das severas punições, estima-se que haja entre 200 mil e 400 mil cristãos secretos vivendo na Coreia do Norte, que praticam sua fé em pequenos grupos clandestinos. Muitos dependem de contrabandistas que, arriscando suas vidas, cruzam a fronteira com a China para levar Bíblias, alimentos e outros suprimentos.
Organizações como a Open Doors, que monitora a perseguição religiosa em todo o mundo, afirmam que o risco é constante. “Na Coreia do Norte, você não pode confiar nem na sua família. Muitos são denunciados por vizinhos ou parentes próximos”, explica um relatório da entidade.
Fonte: Gomes / CM7