Ex-ministro afirma que o Brasil tem grandes oportunidades diante da guerra comercial entre as potências
Em entrevista concedida ao jornalista Leonardo Attuch, editor da TV 247, no dia em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, completou 100 dias de seu segundo mandato, o ex-ministro Aldo Rebelo apresentou uma análise contundente sobre os rumos da política internacional e os desafios estratégicos do Brasil. A fala ocorreu no contexto da crescente tensão geopolítica e econômica entre China e Estados Unidos, com a intensificação da guerra comercial travada por Trump contra a potência asiática.
“Vivemos uma profunda mudança no cenário internacional”, afirmou Aldo. “Estamos testemunhando o nascimento de uma nova ordem internacional, marcada por várias transições. Saímos da hegemonia do Atlântico Norte e o dinamismo da economia migrou para o indo-Pacífico.” Segundo ele, essa nova configuração mundial deve ser encarada como uma oportunidade histórica para o Brasil: “China, Índia, Indonésia, Coreia e Vietnã lideram a economia mundial. O impacto dessa mudança para o Brasil não é pequeno.”
A nova geoeconomia e o lugar do Brasil
Aldo Rebelo destacou que o dinamismo da economia brasileira também está se deslocando, com o Centro-Oeste assumindo papel central: “O Centro-Oeste será o polo mais dinâmico da economia brasileira, com sua integração cada vez maior aos mercados asiáticos. Nos próximos anos, três das cinco maiores economias do mundo estarão na Ásia: China, Índia e Indonésia. As outras duas serão os Estados Unidos e o Brasil.”
Sobre a liderança tecnológica chinesa, ele foi categórico: “A liderança da China em tecnologia hoje é absoluta. Dos dez maiores bancos do mundo, cinco são chineses – e são os cinco primeiros.”
Entre potências, o Brasil deve escolher a si mesmo
Apesar da disputa entre as duas grandes potências, Rebelo acredita que o Brasil deve manter uma postura soberana. “Não acredito que o Brasil precise fazer uma escolha entre China e os Estados Unidos. O Brasil precisa proteger suas relações com ambos e escolher o seu lado – que é o do Brasil”, declarou. Ele rejeita a ideia de subordinação a qualquer potência: “O Brasil nunca foi o quintal dos Estados Unidos. O Brasil é muito grande para ser quintal de alguém.”
A crítica à paralisia em setores estratégicos também esteve presente na entrevista. “Enquanto a China dispara, o Brasil não consegue avançar na exploração da Margem Equatorial”, lamentou o ex-ministro, ressaltando o descompasso entre o potencial e a ação governamental em áreas-chave para o desenvolvimento.
Reindustrialização e soberania nacional
Rebelo defende que o Brasil retome o caminho do desenvolvimento com base em um projeto nacional soberano: “Para se reindustrializar, o Brasil precisará de um projeto próprio.” Ele lembra o papel estratégico do Estado em momentos decisivos da história brasileira, como na criação da Embrapa, que transformou o país em referência mundial em agricultura tropical.
“Ao criar a Embrapa, o Brasil fez da sua agricultura tropical a mais competitiva do mundo. O Brasil deve ser uma potência agroindustrial. O dilema do Brasil não é ser agrícola ou industrial”, apontou.
Infraestrutura, integração e autonomia
O ex-ministro vê com otimismo a possibilidade de o Brasil aproveitar a nova ordem mundial para fortalecer sua infraestrutura e integração logística, sem abrir mão da soberania. “O Brasil pode melhorar suas negociações com a China, buscando mais interesses em portos, hidrovias e ferrovias, além de contratos de longo prazo na área de alimentos”, defendeu.
Ele rejeita a ideia de aderir à Nova Rota da Seda chinesa: “O Brasil não precisa aderir à rota da seda porque tem condições de fazer a sua própria infraestrutura. O Brasil deveria fazer a sua própria Rota dos Bandeirantes.”
Projeto político para 2026 e crítica ao bloqueio do desenvolvimento
Aldo Rebelo também falou sobre seu projeto político para o futuro: O Brasil precisa pensar o Brasil — uma plataforma que, segundo ele, busca preparar o país para as eleições de 2026. “Defendo três eixos: a retomada do desenvolvimento, a redução das desigualdades e a construção da democracia. O Brasil precisa ter ambições maiores.”
Ele denunciou ainda o que considera um bloqueio ao debate desenvolvimentista no país: “Existe uma elite desenvolvimentista no Brasil, mas ela é silenciada pela mídia. O desenvolvimento não pode mais ser parado por ONGs e pelo aparelhamento do Ministério Público.”
Por fim, Rebelo reiterou que o Brasil tem todos os meios para se tornar uma potência. “Nenhum país tem os meios para crescer num nível mais elevado do que o Brasil”, afirmou. Para ele, o desenvolvimento é mais do que uma escolha econômica: “O desenvolvimento é uma aspiração internacional – e pode quebrar a polarização.”
A entrevista reafirma o pensamento estratégico de Aldo Rebelo e aponta caminhos para que o Brasil exerça sua soberania em um mundo em transformação. A escolha, segundo ele, não é entre a China e os Estados Unidos, mas pelo Brasil.
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Fonte: Brasil247