Ferrovia com mais de 4 mil quilômetros pode ligar país a vizinho e facilitar comércio com os asiáticos. Brasil pode se tornar um dos maiores corredores logísticos do mundo com a construção de uma ferrovia transoceânica apoiada pela China, que promete transformar o comércio internacional e conectar o Atlântico ao Pacífico com trilhos estratégicos.
O Brasil pode estar prestes a dar um passo gigantesco na integração logística continental. Está em estudo um megaprojeto ferroviário com apoio da China para ligar o Porto do Açu, no Rio de Janeiro, ao litoral do Peru, atravessando o coração da América do Sul. Com mais de 4.400 km de extensão, a chamada Ferrovia Transoceânica pretende unir o Oceano Atlântico ao Pacífico, criando uma nova rota de exportação e importação entre o Brasil, a Ásia e o restante do mundo.
Com um investimento estimado em R$ 100 bilhões, a China anunciou apoio a um projeto ambicioso que promete ligar o Atlântico ao Pacífico por trilhos, encurtando distâncias comerciais entre o Brasil e a Ásia. A obra, conhecida como Ferrovia Transoceânica, busca transformar o transporte de mercadorias e fortalecer o papel do Brasil no comércio internacional.
O projeto prevê mais de 4.400 quilômetros de ferrovia somente em território brasileiro, atravessando o país desde o Porto de Açu, no litoral do Rio de Janeiro, até se conectar ao Megaporto de Chancay, na costa do Peru, já em fase de construção.
A iniciativa, que conta com apoio dos governos brasileiro, chinês e peruano, pode redefinir a logística da América do Sul, oferecendo uma nova rota para o escoamento de commodities como soja, minério de ferro e celulose diretamente para os grandes centros consumidores asiáticos.
Um corredor logístico entre o Atlântico e o Pacífico
O objetivo da Ferrovia Transoceânica é ambicioso: criar uma ligação interoceânica eficiente e moderna, facilitando o transporte de cargas e diminuindo a dependência das rotas marítimas pelo Canal do Panamá ou pelo extremo sul do continente.
Com o avanço do comércio entre Brasil e China, que movimenta mais de R$ 170 bilhões por ano, uma solução como essa se mostra estratégica e urgente para atender à crescente demanda por infraestrutura.
Segundo Sérgio Vidigal, secretário de Desenvolvimento do Espírito Santo, a ferrovia é fundamental para aumentar a competitividade dos produtos brasileiros no mercado global.
“Reduziremos custos logísticos e o tempo de transporte, além de ampliar nosso acesso à Ásia. Esse projeto pode redefinir a forma como o Brasil participa do comércio mundial”, declarou.
A infraestrutura da ferrovia já está em movimento
Embora o projeto soe futurista, algumas obras já estão em andamento, especialmente em Goiás, um dos estados que será atravessado pela ferrovia.
Além disso, estudos de viabilidade técnica e econômica foram concluídos, comprovando a importância e viabilidade da iniciativa.
A expectativa é que mais informações sejam divulgadas no Plano Nacional Ferroviário, ainda pendente de publicação pelo governo federal.
No entanto, a ausência de um cronograma oficial para o trecho da EF-118, que liga Espírito Santo ao Rio de Janeiro, gera incertezas.
De acordo com Fernando Otávio Campos, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado (Abih-ES), a falta de prazos claros pode comprometer o avanço da obra e o retorno dos investimentos.
Investimento chinês e estratégia de influência regional
O governo chinês tem demonstrado firme interesse na execução do projeto desde 2015, quando foi assinado um memorando de entendimento entre Brasil, China e Peru.
Apesar de o Brasil não ter aderido à “Nova Rota da Seda” em 2024, os acordos bilaterais se mantêm firmes, reforçando o comprometimento dos dois países com a ferrovia.
A China investe estrategicamente em obras de infraestrutura ao redor do mundo, buscando fortalecer laços comerciais e expandir sua influência geopolítica.
A América Latina tem sido um dos principais alvos desses investimentos, e o Brasil, como maior economia da região, ocupa papel central nessa estratégia.
Além da ferrovia, o Megaporto de Chancay, no Peru, representa outro ponto crucial do projeto.
Em construção pela Cosco Shipping, uma estatal chinesa, o porto deve custar cerca de R$ 20 bilhões.
A previsão é que ele se torne a principal ligação marítima entre a América do Sul e o porto de Xangai, na China.
Com capacidade para operar navios de grande porte e movimentar milhões de toneladas por ano, Chancay pode revolucionar a exportação de produtos brasileiros.
Mineradoras brasileiras e financiamento internacional
Um dos pontos centrais do projeto está no Ramal Anchieta, trecho que será operado pela mineradora Vale, principal interessada na logística ferroviária.
A empresa será responsável pela EF-118, que conectará a malha ferroviária capixaba ao Rio de Janeiro, essencial para o sucesso da Transoceânica.
Para viabilizar os investimentos, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) — também conhecido como Banco dos BRICS — surge como alternativa ao financiamento tradicional.
Segundo Daniel Carvalho, coordenador dos cursos de Relações Internacionais e Comércio Exterior da UVV, as condições oferecidas pelo NBD são mais favoráveis do que as do Banco Mundial.
“As taxas de juros competitivas e maior flexibilidade tornam o projeto mais atrativo para investidores estrangeiros”, explica.
Isso pode ser determinante para atrair a iniciativa privada, que terá papel central na viabilização do projeto.
O envolvimento de grandes grupos econômicos e o apoio institucional do governo brasileiro são vistos como pré-requisitos para que a obra saia do papel em sua totalidade.
Desafios logísticos e entraves políticos
Apesar do otimismo, os desafios ainda são significativos.
A construção de uma ferrovia transcontinental exige a superação de obstáculos ambientais, disputas territoriais e a compatibilização de interesses entre diferentes estados brasileiros.
Além disso, falta uma articulação política eficiente que assegure a continuidade do projeto, independentemente de mudanças nos governos estaduais ou federal.
A ausência de um plano de longo prazo unificado pode atrasar etapas essenciais e afastar possíveis investidores.
Outro ponto sensível é a governança do projeto, que deve garantir transparência e fiscalização rigorosa dos recursos envolvidos.
Obras dessa magnitude, quando mal gerenciadas, podem se tornar foco de corrupção e desperdício de dinheiro público.
Ferrovia é um divisor de águas para o Brasil
Se concluída, a Ferrovia Transoceânica poderá transformar o Brasil em um dos principais hubs logísticos entre a América Latina e a Ásia.
O país ganharia uma vantagem estratégica no comércio internacional, encurtando o caminho até os maiores mercados consumidores do mundo.
Além disso, regiões brasileiras historicamente isoladas ou com baixo desenvolvimento logístico poderão se beneficiar da nova infraestrutura, atraindo investimentos e gerando empregos em áreas que ainda carecem de dinamismo econômico.
No entanto, o sucesso da Transoceânica depende de uma combinação entre vontade política, investimentos consistentes e planejamento estratégico.
Sem esses elementos, o projeto corre o risco de se tornar mais uma promessa frustrada de integração continental.
Por: Clickpetroleoegas